segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Um desabafo nada original!

Sei que temos estado ausentes. Não é esquecimento. Sejamos sinceros, pouco tem sido o tempo livre para fazer algo que não seja trabalhar. Mas não quis deixar passar demasiado tempo, portanto aqui vai...

O desabafo que hoje vos trago poderia ser o desabafo de qualquer jovem adulto português nos dias que correm. Não tentarei ser original, revolucionária ou moralista. Apenas direi o que me vai na alma. Sem censura.


Eu tenho 32 anos. Tirei um curso superior e sempre me considerei uma pessoa dedicada e trabalhadora. Desde cedo, quis conhecer diferentes "labores" e aventurei-me em summer jobs e trabalhos temporários para poder cimentar a minha decisão d' "o que quero ser quando for grande".
Passei alguns obstáculos e travei algumas batalhas até chegar ao ponto de poder afirmar com toda a certeza: "é isto que quero fazer para o resto da minha vida!"

Ao longo deste percurso, tenho sempre presente a conversa dos meus pais sobre como ser licenciada era a única garantia de ter um bom emprego e um bom salário. Resumidamente, eles queriam que eu tivesse tudo o que eles nunca puderam alcançar. 

Pois bem, atingi o meu objetivo académico e o que tenho para prová-lo? NADA!

Ah, peço desculpa: tenho um canudo todo bonito e trabalhado que me custou 60€ e que diz que sou licenciada! Ora, mas que bem!

E agora? Onde está o bom emprego e a remuneração elevada que me esperava ao fundo do túnel? Nem vê-los!!! Sou posta de parte nas entrevistas porque não aceito trabalhar 56 horas por 500€?! Não sou selecionada porque não investi o suficiente na minha formação extra-curricular?! Sou esquecida porque não posso realizar estágio profissional?!

P*RRA! PRESA POR TER CÃO E PRESA POR NÃO TER!

Torna-se cansativo (e repetitivo!) ouvir mil e uma desculpas para não trabalhar ou para trabalhar em condições precárias. Ainda pior, quando nem se dignam a dar uma resposta à nossa candidatura, mesmo quando sabemos de antemão que a probabilidade do "não" é alta. 
Instituiu-se uma cultura do desrespeito e do facilitismo que descura o melhor bem que este país tem produzido nos últimos anos: os jovens licenciados! Riem-se de nós e viram-nos as costas, sem qualquer peso na consciência e sem remorsos. 
ABANDONAM-NOS!
Entretanto, esquecem-se que precisamos de viver! Precisamos de sair da saia da mãe e iniciar a nossa própria vida. Precisamos de pagar contas, precisamos de sustentar uma casa e precisamos de iniciar a vida adulta.

Como se tudo isto não fosse suficiente, ainda nos responsabilizam pelo rumo do país: 
"Porque o país esta envelhecido e a taxa de natalidade tem vindo a decrescer!"
"Porque os jovens estão adormecidos e não se revoltam!"
"Porque não tomamos parte ativa na política do país!"

Sinceramente, as minhas respostas são curtas e grossas:
Não tenho filhos porque não tenho condições para sustentar nem o meu cão (às vezes nem a mim própria) quanto mais uma criança!
Não me revolto porque, quando o faço, não vejo resultados e ainda me chamam hippie por andar na rua com cartazes!
Não entro na política porque está de tal forma corrompida que mais vale apagar tudo e recomeçar da estaca zero!

O que resta?

Sobram os trabalhos temporários ou  à comissão que obrigam a trabalhar demasiadas horas por uma ninharia e as incertezas e fragilidades das prestações de serviços que trazem mais insegurança do que qualquer outra coisa.

Sobra a possibilidade de sair do país e deixar tudo o que sempre conheci para trás em busca do tão prometido emprego bem pago, ou estável, para o qual me matei durante, pelo menos, 16 anos da minha vida..

Sobra a inércia de me sujeitar ao que aparece e rezar para que dê para ultrapassar mais um mês.


Agora, pergunto-me: de que serviu tantos anos e tanto dinheiro investido num curso superior? O que vale ser uma pessoa trabalhadora e dedicada nos dias de hoje? Por quanto tempo devo sujeitar-me à incerteza da minha carreira profissional?

Perguntas atrás de perguntas e respostas: NADA!

Se têm acompanhado as aventuras d' O Tripeiro e da Picarota, certamente imaginam que o amor tem sido constante e que a fantasia de constituir família está ao virar da esquina. Mas como posso viver este sonho se a realidade me puxa pelas pernas e arrasta pelo chão?


Imagino que muitos sintam o mesmo que eu (que nós) e que coloquem as mesmas questões a cada passo que dão. Partilhem! Usem este simples e humilde desabafo para "deitar cá p'ra fora" a vossa revolta.
Estamos todo no mesmo barco e temos que nos unir para sermos mais fortes, para fazermos ouvir a nossa voz.


Desculpem o desabafo.
J

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